PERGUNTAS E RESPOSTAS

Há dois tipos de perguntas.
Uma que precisa ser respondida
e outra precisa ser vivida.

Há perguntas práticas e perguntas existenciais.
Perguntas práticas se contextualizam
no horizonte da objetividade.
Perguntas existenciais não provocam
respostas imediatas.

Viver é uma forma de respondê-las.
É maravilhoso conviver com elas.

O que torna uma pessoa especial
é sua capacidade de viver
intensamente por uma causa.

São raras nos dias de hoje.
Vive-se muito pela metade ultimamente.
Pessoas que se empenham
na realização de seus sonhos não
se conformam com a uniformidade.
Assumem o preço de serem diferentes e,
geralmente,
nadam contra a corrente.

Isso requer coragem.
Coragem de ser,
não simplesmente de fazer.
Ser é mais difícil do que fazer,
afinal,
é no ser que o fazer encontra
o seu sustento.

Faço a partir do que sou.
Não, o contrário.

Tenho encontrado muita gente
perdida no muito fazer.
Gente que perdeu totalmente
o referencial existencial
de suas vidas.
Gente que se empenhou
e investiu na vida só para um
dia poder fazer alguma coisa.
Estudou, lutou, aprofundou,
com o desejo de um dia poder
desempenhar uma função.

É claro que
o fazer também realiza,
faz feliz,
mas não podemos negar
que há uma realidade que
precede o mundo da prática.

O significado que sou
No silêncio do coração,
há um lugar que não
sabe fazer nada.

É lá que nos descobrimos em
nosso primeiro significado.
É ele também o nosso
lado mais sedutor.
É ele que faz com que as
pessoas se apaixonem por nós.
É justamente por isso que ele
tem que ser bem descoberto,
de maneira que,
quando façamos o que
quer que seja,
tudo o que fizermos tenha
as marcas do que somos.
É simples.
Medicina muita gente faz,
mas é no exercício da profissão
que cada pessoa se mostra em
sua intimidade mais profunda.

Aí mora a diferença.
Muitos Fazem a mesma faculdade,
mas se encontram de maneira
diferente com o conhecimento
que recebem.

Realizo tudo a partir de
minha particularidade.

Sou único,
ainda que imitado por muitos.

Eis a questão
Essas coisas me fazem
pensar na beleza e na
responsabilidade que essa
diferença nos traz.
Ela nos coloca diante da vida
como um acontecimento que merece
ser sorvido com toda a
intensidade do nosso coração.

Agir é um desdobramento do meu ser.
Eu sou,
antes de fazer qualquer coisa.
Há em mim uma realidade que
me faz significar,
mesmo que um dia eu fique
totalmente incapacitado de
realizar qualquer ação.
Eu sou,
mesmo na incapacidade dos
movimentos e na impossibilidade
dos gestos.

Nem sempre podemos
compreender tudo isso,
por mais simples que seja.
Vivemos na era da utilidade,
onde tudo tem que estar
conectado a uma função prática,
onde o fazer prevalece sobre o ser.

O que você faz na vida?
Esta é a pergunta.
O que você é na vida?
Continua sendo a pergunta.

Mas a primeira é mais fácil responder.
Dizer o que se faz não dá tanto
trabalho quanto dizer o que se é.
O que se faz é simples de se dizer
e as palavras nos ajudam,
mas dizer o que se é,
não é tão simples assim,
e por vezes,
as palavras nem sempre nos socorrem.

Sou muito mais do que posso
dizer sobre mim mesmo.
Você também.
Por isso não gostaria que
nossa conversa terminasse
com uma pergunta pragmática,
dessas que se escutam em todas
as esquinas que
costumamos freqüentar.

Opto por uma pergunta que
não espera por resposta imediata,
tão pouco pelo desconcerto da fala.
Só lhe peço que honestamente
debruce-se sobre ela:

Quem é você?

AUTORIA: Padre Fábio de Melo
* * * * *
Texto lido no programa
"Madrugada Viva Liberdade FM"
no quadro
"Momento de Reflexão"
no dia 25 de Setembro de 2.010.

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