A ponte da indiferença
As pessoas hesitam atravessar
a ponte da indiferença porque
temem o encontro
com a própria dor ou condição.
Nos imaginamos sempre jovens,
bonitos,
saudáveis e completos.
Não imaginamos as perdas,
a solidão, a velhice,
a invisibilidade diante de
uma sociedade
que prefere fazer-se cega.
O "isso só acontece com os outros"
toca mais nosso coração que o
"e se fosse comigo?
E se fosse eu a
ter perdido uma perna,
o emprego,
o amor ou minha dignidade?"
Se os corações conseguissem criar
asas de vez em quando e colocar-se no
lugar do outro, eles seriam mais abertos,
menos cerrados e mais receptivos.
Eles teriam olhos, ouvidos atentos,
braços imensamente longos.
Evitamos os caminhos pedregosos,
evitamos as situações impossíveis
e as lágrimas alheias.
Pensamos que não somos responsáveis
pelos males da sociedade e por isso mesmo
não devemos nos envolver.
Nunca nos vemos desse lado da ponte onde
carências existem e nem nos passa
pela cabeça que o fio
que separa um lado do outro seja tão ínfimo,
tão frágil, tão delicado.
Colocar-se no lugar do outro dói menos
que estar no lugar dele.
Mas nem essa linha queremos atravessar!...
Se o fizéssemos haveria menos solidão,
mais compreensão, menos suicídios,
mais esperança,
menos marginalização e uma
possibilidade muito maior de um
dia, se por acaso estivermos,
pelos contrários da vida, do outro lado,
uma mão estendida na nossa direção.
TEXTO: Letícia Thompson
* * * * *
Texto lido no programa
"Madrugada Viva Liberdade FM"
no quadro
"Momento de Reflexão"
no dia 07 de Maio de 2.013.
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