Para a minha mãe sempre fui uma vencedora, mesmo quando me senti derrotada

Nem tudo o que parece ser negativo realmente é. E o que julgamos que deu errado, muitas vezes, estava certo, e foi exatamente como deveria ter sido. Só precisamos de tempo e de um certo distanciamento para compreender.

O filósofo, teólogo, pedagogo e psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, inventor das Constelações Familiares diz: Resta-me, como única solução, submeter-me e conformar-me voluntariamente ao contexto de um poder superior, seja para minha felicidade ou para minha desgraça. A atitude em que se baseia esse comportamento eu chamo de humildade. Ela me permite aceitar a minha vida e a minha sorte pelo tempo que durarem.

Eu estava no último ano da Universidade e era finalista de um importante prêmio, que renderia ao ganhador uma bolsa de estudos na Europa. Na última entrevista perdi para um rapaz. Voltei para casa arrasada.

Minha mãe sorriu com o seu olhar amoroso, abraçou-me e disse que eu já tinha vencido por ter chegado tão longe. Amor de mãe é assim, infinito. Ela se sentia muito orgulhosa e eu derrotada.

Seis meses depois, acordei para ir trabalhar e, como todos os dias, tomamos café juntas, conversamos e ela me acompanhou até à porta. Esse foi o nosso último encontro. Naquela tarde ela teve um infarto e não resistiu. Voltei para casa e ela não existia mais. Inconformada, eu olhava para o céu e perguntava: "Por que ela, meu Deus? Por que?". 

Ela era uma mulher amorosa e caridosa, merecia viver mais, merecia ficar bem velhinha. Eu queria que ela me visse casar, ter filhos e realizar meus sonhos.

Para Hellinger, estamos entregues a um destino imprevisível que, independentemente de sermos bons ou maus, decide sobre nossa morte ou vida, salvamento ou desgraça, felicidade ou perdição.

Sofri por muitos e muitos anos. Meus olhos enchiam de lágrima só de me lembrar desse dia, mas com o passar do tempo, que é sábio e cura todas as feridas, parei de questionar e passei a agradecer profundamente por não ter sido a vencedora daquele prêmio e por ter vivido os últimos meses ao lado dela e não na Europa.

A gratidão nasce da aceitação do que foi e do que é. Somos pequenos diante do Universo e na vida é assim: às vezes perdemos ao ganhar e às vezes ganhamos ao perder.

É preciso confiar e, mesmo sofrendo e sem entender, acreditar que, no fundo, tudo está certo como está. 

Essa humildade leva a sério a experiência de que eu não comando o destino, mas ele a mim. Ele me acolhe, sustenta e deixa cair, de acordo com leis cujo mistério não posso nem devo desvendar, diz Hellinger.

A morte também faz parte da vida e no lugar da dor ficam a doce saudade e a imensa gratidão pelos momentos vividos. Aceitar a vida como ela é, curvando-nos diante de seu mistério e de sua grandeza, ajuda-nos a ser mais humildes e mais humanos.

O amor é eterno e ela estará para sempre no meu coração, como exemplo de amor e caridade. Em vida ela me ensinou a amar e depois que partiu aprendi a caminhar com os meus próprios pés, muito grata por todos os ensinamentos.

Neste dia das mães, olharei para o céu e contarei para todas as estrelas, que sigo realizando meus sonhos, que me casei com um homem muito querido e estou grávida do nosso primeiro bebê, certa de que onde ela estiver sorrirá e celebrará comigo.

Que essa mensagem seja uma chuva dourada, de alegria e muita gratidão, para todas as mães: para as que estão aqui e para as que estão brilhando junto com a minha lá em cima. Feliz dia das mães!

*As citações de Bert Hellinger foram extraídas do livro "No centro sentimos leveza", Editora Cultrix.

TEXTO DE: Lilian Pachler-Duftner
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Texto lido no programa "Madrugada Viva Liberdade FM" no quadro "Momento de Reflexão" no dia 12 de Maio de 2.018.
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