Os Sequilhos com goiabada.
“Criei o costume de toda semana comprar sequilho com goiabada na padaria perto daqui de casa.
Comê-lo bebendo um café sem açúcar tornou-se, sem exagero, um dos momentos mais deliciosos da semana (tirando o dia da coxinha com café).
Mas a goiabada me incomodava.
Não necessariamente ela, mas sua pouca quantidade.
Era um pingo no meio do sequilho.
Reclamei na padaria, chamei o padeiro de sovina, pão duro e muito mais.
Outro dia, voltando de um compromisso, passei pela padaria e, pra minha sorte, disseram que havia um sequilho especial pra mim.
Lá estava, o meu sonho num sequilho de um real.
Quase que completamente coberto de goiabada.
Chegando em casa, preparado o café e toda a ritualística necessária para consumir o apetecível sequilho, ocorreu que não comi nem a metade.
Enjoei na segunda mordida. Doce demais, chegava a dar náuseas.
No dia seguinte, cheguei na padaria e lá estava: outro sequilho coberto de goiabada. Me ofereceram e, por vergonha de dizer que odiei o do dia anterior, comprei. Em casa, raspei a goiabada e comi.
Aí eu entendi que o problema não era a goiabada nem o padeiro, era eu mesmo.
Fui eu quem, amando o que amava, queria do meu jeito, sem entender que eu gostava era do jeito que era, porque se fosse do meu jeito, eu rejeitaria, enjoaria e até tentaria fazê-lo voltar a ser como era.
Assim fazemos com as pessoas também. No início as amamos como são, depois que estão conosco começamos a criticar, tentamos mudá-las, tentamos “colocar do nosso jeito”, sem saber que nosso jeito são nossas projeções, pessoas que não existem, e que se existissem, enjoaríamos delas.
Transformamos para descartar, porque quando aquela pessoa muda, muito provavelmente quem gostávamos não está mais lá.
Essa semana voltei à padaria, pedi o sequilho sem goiabada e mandei avisar ao padeiro que o próximo texto quem escreve é ele.
Provavelmente virá algo de bom, ainda que não seja doce.
Abençoados sejam meus amigos cada qual a sua maneira e o seu jeito de ser.”
TEXTO DE: Jonathan Araújo
OBS.: Vai compartilhar? Respeite a autoria do texto.
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Texto lido no programa "Madrugada Viva Liberdade FM" no quadro "Momento de Reflexão" no dia 18 de Dezembro de 2.019.
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TONINHO LIMA
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